quarta-feira, 13 de maio de 2009

Resenha: Latino-americanos à procura de um lugar neste século

Néstor García Canclini nasceu na Argentina em 1939, é professor da Universidad Autónoma Metropolitana e pesquisador emérito do Sistema Nacional de Pesquisadores do México. Recebeu o Book Studies Association pelo livro Culturas híbridas, considerado em 2002 o melhor livro sobre a América Latina. Nos últimos anos seus temas de estudo são os novos hábitos culturais e as relações entre estética e antropologia. Publicou pela Editora Iluminuras, os livros A Globalização imaginada (2003) e Leitores, espectadores e internautas (2008).

O livro Latino-americanos à procura de um lugar neste século de Néstor García Canclini traduzido por Sérgio Molina, procura expor como decisões econômicas, políticas e sociais entre os países influenciam uns aos outros sem que muitos percebam. Assim como mostra que as culturas dos países como Brasil, México e Argentina não estão sendo contidas unicamente nesses países por causa das imigrações e sim misturadas, mantendo relações cujo entendimento precisaria de uma observação empírica, ou seja, observar mudanças ocorridas nas culturas por causa de imigrantes que transitam de uma sociedade para outra, deixando um pouco de sua bagagem cultural por onde passa.


Essa transição cultural que continua assolar nos países, de acordo com Canclini, traz certo descontentamento da sociedade pelo seu “mundo”, mas abre várias oportunidades resultantes de fenômenos intrigantes da globalização, como também, faz sociedades sofrerem abalos em seus projetos e ficarem fragilizadas a ponto de dar mais espaço a países europeus e americanos de tornar-nos meros consumidores e devedores de sua cultura.


Esta obra reforça-nos como a globalização veio como forma de mercado e não como uma possibilidade de somente integrar os diversos países para uma ascensão social e apaziguadora, fazendo-nos refletir sobre os momentos históricos da nossa política- econômica social, e que tudo ocorrido durante esses anos, tem um significado e interesse cultural, como a possibilidade de imigração que promove um encolhimento mundial, através da globalização, aonde as migrações recheadas de ascensão social, vem de parceria com as novas formas de discriminação assolada nas comunidades históricas, fazendo elas se desraigar e desintegrar de suas identidades deixando-se pressionar por acordos que acabará nos próximos anos transbordando riscos que hoje e ontem expandiram.


O autor também, nos aviva a memória como a sociedade durante o século XIX e boa parte do XX, se dizia fazer parte de uma só nação, com orgulho de pertencer a uma única pátria. Tendo uma referência, e que a única coisa que tinham em comum com o outro mundo, era a influência religiosa da igreja católica que se alastrava e alastra pelo mundo até hoje. Nesta época, só alguns poucos cidadãos se aventuravam a fazer a experiência de conhecer e até morar em outro país.


Canclini com isso mostra-nos, que hoje a migração caiu um pouco no sentido de o cidadão se aventurar a uma ascensão social fora de seu mundo, mas que procuram sair dos seus países de origem, para olharem seu próprio país de outro modo, para terem uma visão crítica de tudo o que ocorre dentro dele com relação às questões políticos sociais. E que hoje, não só a influência da igreja católica nos unifica, como também, os meios de comunicação de massa e a força de mercado globalizada, cuja necessidade é unificar-nos através de discursos persuasivos nos tornando consumidores de empresas que fabricam bens, atitudes e estilos de vida que nos fazem viver em uma dramática e trágica desigualdade social, onde umas séries de governantes corruptos alienaram e alienam quase tudo.


No capítulo 3, o autor faz-nos refletir como as sociedades estabeleciam relações políticas culturais em busca de uma identidade idealizada pelo poder das relações. Identidades que separavam e anulavam culturas e criavam ou criam uma espécie de sociedade manipulada pelo capital, que o indivíduo só é considerado indivíduo se pertencer a grupos com características comuns. Tornando uma nação individualista cheia de interesse político-econômico em prol de um grupo específico, o elitista. Anulando toda uma cultura comunitária e de interesses recíprocos para a busca de uma identidade globalizada.


Só que Canclini observa que enquanto grupos procuram definir o latino-americano, outros lutam através de movimentos em defesa dos direitos humanos, e por países onde a democracia exerça sem discriminar um só povo. Mas com tantos impactos sobre a economia e a política, esses grupos que lutam em defesa da democracia, não dão conta de integrar a população em garantias sociais básicas, tornando a exclusão um dos componentes da globalização, que ao mesmo tempo em que procura demonstrar trazer benefícios a todos, desequilibra a estrutura de alguns países com o aumento de dívidas internas e externas que são feitas em prol de uma modernização a qual nunca é avançada nos países como o Brasil, Argentina, Bolívia, etc.. O autor procura mostrar que vários programas e tratados tentam harmonizar a situação desses países, mas os desrespeitos dos acordos despencam a possibilidade de ascensão. No que diz respeito à tecnologia e políticas socioculturais, os mecanismos que poderiam desenvolvê-los bloqueiam-nos beneficiando as estratégias latino-americanistas estadunidenses.


Canclini demonstra que a cultura, a economia, a política, os intelectuais e os meios de comunicação de massa dos países latino-americanos, estão sendo controlados com mais intensidade pelos EUA com a intenção de dominação de todos. Onde a maior dominação se dá através dos meios de comunicação de massa que produz mecanismos cujo interesse é entreter a sociedade para estagnar as políticas de estruturação social desses países escravizados.


Essa análise remete-nos a comparar ao que diz respeito aos mecanismos de dominação citado por Michel Foucault em Microfísica do Poder, onde o papel principal de algumas instituições era exercer o poder sobre uma parte da sociedade alienada por mecanismos gerados em prol da exclusão dos indivíduos considerados loucos e doentes sociais. Assim como, ao Livro Deus é inocente, a imprensa não, que fala sobre o domínio da imprensa sobre as informações e a sociedade.


Esta obra que nos faz refletir, observar e questionar todos os fatos que acorrem no nosso cotidiano é destinada a todos os cidadãos comprometidos com a luta por um mundo melhor, cujo interesse hoje de muitos países não é a democracia, e sim, exercer o poder de uns sobre os outros.

Um comentário:

Anônimo disse...

Este livro é ótimo. Eu gostei muito dele. e Vc??

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