Mente deficiente

O ônibus parou. O cobrador sentado, em seu respectivo lugar, fingiu não perceber a movimentação que circundara o veículo naquele momento. Algumas pessoas se indignando com o acontecimento, e o cobrador só levantou, quando percebeu que estava prestes a ser xingado por um homem indignado com a situação. Correu e foi abrir a porta automática as pressas.

A porta se abriu e a escada desceu. “Vamos ajudar subi a cadeira”, indagou um jovem. Mas ninguém, ninguém mesmo ajudou aquela mulher a colocar seu irmão, marido ou namorado, a subir naquele ônibus que aparentemente era próprio aos portadores de deficiência, mas que se tornava inadequado e preconceituoso ao olhar dos demais passageiros.

Quando tudo parecia estar ajeitado, aquela mulher simpática por sinal, que estava cuidando daquele homem franzino, de braços e pernas finos, o abraçou e o beijou com tanto afeto, que as pessoas ali presentes começaram a indagar: ela deve está gastando toda a aposentadoria do coitado! Será que isso é amor mesmo? Eu de espectadora daquela cena lastimável de preconceito, comecei a refletir como as pessoas são tão maldosas a ponto de pensar que aquela mulher cheia de carinho e cuidados com seu companheiro especial, poderia está fazendo aquilo somente para tirar proveito da situação dele.

Sem dúvida, existem pessoas capazes de tudo! Mas eu ainda prefiro acreditar que o sentimento verdadeiro e sem interesse existe. Será que não poderá existir amor entre aqueles dois jovens, só por causa da deficiência física de um deles? Desculpe companheiros! Mas a deficiência e a maldade não estão em nenhum deles, e sim, em vocês, que só enxergam o mundo com os olhos do preconceito.

Texto escrito após uma cena preconceituosa e lastimável, que ocorreu dentro de um ônibus, numa noite após a faculdade, quando eu retornava para casa. Cena esta, que muitas vezes, ocorre todos os dias, mas geralmente não percebemos, por estarmos mergulhados no mar de preconceitos impregnados dentro de nossas mentes e corações insanos.