quinta-feira, 18 de junho de 2009

Refletindo sobre os conteúdos divulgados nos rádios

Desde a fase de implantação do rádio no Brasil, o sistema de radiodifusão é influenciado em seus conteúdos, pela política e pela economia. Neste contexto, a obra A informação no Rádio: os grupos de poder e a determinação dos conteúdos, parte constituinte, editorialmente reelaborada e atualizada, da dissertação de mestrado, defendida em junho de 1982 de Gisela Swetlana Ortriwano, que foi professora doutora da Universidade de São Paulo, mostra-nos cronologicamente, num panorama histórico, a evolução do rádio no Brasil, junto com o próprio desenvolvimento do país, onde por conseqüência da Revolução de 1930, quando as políticas de comércio e indústria precisavam expandir seus produtos no mercado interno; a influência de Getúlio Vargas na centralização do poder executivo e as renovações tecnológicas tiveram grande importância para o desenvolvimento do veículo.

A autora expõe que a priori, os objetivos da programação de conteúdo do rádio eram para ser de cunho educativo, ensino e alegria, mas como nasceu em um ambiente, onde só os que possuíam melhor poder aquisitivo poderiam ter acesso, o veículo transformou-se em empreendimentos de intelectuais, servindo como meio de diversão para a classe. Assim como, o conteúdo ficou ainda mais comprometido, com a permissão da publicidade autorizada pelo Decreto n° 21.111, que regulamentou o Decreto 20.047, primeiro diploma legal sobre a rádio difusão surgido no Brasil, transformando os veículos em empresas, que se organizavam em prol da concorrência existente entre elas. Gisela, já a partir dessa fase, nos faz perceber o quanto os grupos de poder, já vinham impondo seus conteúdos na programação das emissoras.

Com o surgimento da televisão, a autora nos mostra, que as emissoras de rádio passaram a tomar novos rumos. Começaram a se especializar e a investir em inovações tecnológicas, o que permitiu uma qualidade melhor a programação, mas não aos conteúdos, que a cada dia passou a prevalecer o entretenimento, embora ainda existisse um pouco de informação e cultura, coisa que nos tempos de hoje, ainda prevalece. Além disso, fornece dados da época, extraídos da obra de Mário Erbolato, A radiodifusão brasileira, permitindo a comparação entre os meios, mostrando que o Brasil ocupava um lugar privilegiado dentro do panorama da radiodifusão sonora mundial.

Apesar da obra estar desatualizada, os conteúdos expostos pela autora, nos remete a refletir, sobre os teores atuais dos programas de radiodifusão, que na sua maioria, divulgam informações políticas e objetivos dos grupos detentores do poder, ou seja, o rádio é utilizado como propagador de idéias, de determinado grupo social, que se aproveita da influência causada pela economia no rádio, onde as verbas vindas da publicidade as sustentam, para transformar a programação em meras mercadorias, extraídas e adaptadas por agências publicitárias, alienando o público e transformando-os em consumidores de produtos radiofônicos.

Mas Gisela mostra que, não só os interesses internos, como também os externos, como os dos americanos, franceses e ingleses, podem influenciar nos conteúdos da programação do veículo, através de agências de notícias e divulgação de ideologias na defesa dos próprios interesses. Como também expõe diversas leis, que foram surgindo, na tentativa de amenizar a dominação dos conteúdos dos programas informativos, nas mãos de anunciantes que acabam transformando o rádio em um negócio, ao invés de um veículo com função social.

Contudo, este livro de Gisela, é uma obra praticamente completa, em termos de dados estatísticos, cujo conteúdo possibilita um aprendizado rico, comparativo e descritivo, permitindo ao leitor, mais precisamente, um jornalista ou estudante de jornalismo, relacionar o passado com o presente e, verificar acertos e falhas nas transmissões dos diversos veículos radiofônicos existentes atualmente.

Fazer o leitor refletir sobre as informações ideológicas, transmitidas por esses meios de informação, aparentemente, foi a intenção da autora, mas através deste livro, mais o conteúdo existente na obra de Emílio Prado Estrutura da informação radiofônica, e de Nilson Lage A Reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística, o indivíduo poderá não só refletir, como também, adquirir técnicas e bagagens necessárias, mas não suficientes, para a prática de um jornalismo sério e comprometido com a sociedade.

Dessa forma, a obra de Gisela Ortriwano, não fica restrita somente aos estudantes de jornalismo, jornalistas e pesquisadores do assunto, ela serve a todos os indivíduos, comprometidos e participantes dessa nação, corrompida pela ganância dos que detém o poder, na tentativa de fazer todos pensar, sobre as notícias e informações transmitidas não só pelo rádio, mas pelos milhares meios de propagação de informação existentes, e que por conseqüência da tecnologia ainda passarão a existir. No entanto, como diz Clóvis Rossi,

Jornalismo, independente de qualquer definição acadêmica, é uma fascinante batalha pela conquista das mentes e corações de seus alvos: leitores, telespectadores ou ouvintes. Uma batalha geralmente sutil e que usa uma arma extremamente inofensiva: a palavra, [...].

Sendo assim, fica ao nosso critério, saber distinguir e selecionar o que os veículos chamam de notícia, divulgadas a todo o momento nos campos de batalha midiáticos.

Referência
ORTRIWANO, Gisela Swetlana. A informação no Rádio: os grupos de poder e a determinação dos conteúdos. São Paulo: Summus, 1985.

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