sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Invisibilidade social

Su Mendonça

A invisibilidade social é um conceito empregado aos indivíduos discriminados pela própria sociedade em que está inserido. Ser invisível, é não ter importância para seu grupo social, é sofrer a indiferença, o preconceito, “é não ser ninguém perante o olhar da maioria” (livro “Homens invisíveis” do psicólogo Fernando Braga da Costa). A invisibilidade é concretizada a partir do momento em que uma parte da sociedade impõe regras as quais a maioria dos indivíduos são obrigados a seguir, não seguindo estas, o indivíduo é esquecido socialmente tornando-se inexistente para o restante do grupo.

São diversos os fatores, que podem contribuir para que a invisibilidade social continue arraigada em nossa sociedade: sociais, culturais, econômicos, políticos e estéticos. A invisibilidade pode levar um indivíduo a processos depressivos, causando a sensação de abandono e aceitação na condição de ninguém, mas também pode levar a mobilização e a organização da minoria discriminada. Essa minoria social é prejudicada a maioria das vezes, pelo sistema capitalista, onde é mantido pela lei do mais valia, ou seja, as minorias sociais são visíveis somente para o mercado consumidor, essa é uma das formas de visibilidade aos indivíduos excluídos economicamente.

A falta de comunicação entre as pessoas também é um fator que causa a invisibilidade e que talvez seja um dos mais preocupantes. A realização de diálogo entre pessoas faz-nos sentirmos mais importantes e de certa forma valorizados. O olhar de uma pessoa sobre outra pode causar impactos meramente inusitados e um olhar de desprezo pode causar revolta e futuramente outras tragédias. Um indivíduo que é reconhecido socialmente tende a progredir e estabelecer padrões aos quais o sistema emana, criando assim sua identidade.

No entanto, existem milhares de crianças e adolescente em Salvador e em todo o mundo que infelizmente são tratadas como se não existissem, desprezadas por uma parte da sociedade cujo interesse só é captar lucro e ressarcir interesses próprios, deixando de lado toda uma geração cheia de sonhos e necessidades a serem saciadas.

Estas crianças e adolescentes por não terem suas necessidades saciadas e terem um padrão de vida desumano, são esquecidas pela sociedade, sendo discriminadas, humilhadas e até mesmo sendo vítimas do preconceito estético e dos maus tratos da polícia e da própria sociedade (Falcão-Meninos do tráfico), ou seja, por serem mal vestidas e por fazerem parte de um grupo economicamente excluído, os detentores do poder violam a Declaração Universal dos Direitos Humanos onde diz que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”. Quando os direitos humanos passam a ser violados, a situação torna os indivíduos propícios a atos barbáries, causando revoltas e a organização de grupos considerados nocivos (pessoas que se juntam para conseguir aparecer perante a sociedade, como: MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem terra), a Central Única de Favelas (CUFA), fóruns nacionais, estaduais e municipais de defesa dos direitos da criança e do adolescente. Esses grupos também podem ser encontrados no crime organizado, o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho) para os detentores do poder (Texto Invisibilidade Social: outra forma de preconceito- Mateus Constantino-SP) .
O que fazer para tentar combater essas mazelas que a invisibilidade e a luta pela sobrevivência impõem para esse grupo desfavorecido?

Para que esse problema fosse solucionado, aos poucos teríamos que começar a conscientizar toda sociedade sobre o problema que assola no nosso país e no mundo. Problema este, que aumenta a violência, a miséria e a pobreza de uma nação. Poderíamos começar essa luta, tentando modificar os discursos gerados pela classe hegemônica inserida nos veículos de comunicação cujo interesse é imobilizar a grande massa, determinando padrões de comportamentos (Loraci Hofman) dos indivíduos.

Para mobilizarmos essa grande massa, seria necessário mudarmos esses discursos construídos para alienar a sociedade sobre as diversas mazelas existentes no estado, no país e no mundo. Na tentativa de construir uma nova realidade, essa mobilização social seria elemento indispensável para uma chamada “revolução cultural” (Prof. Jorge Lisboa), ou seja, modificação do modo de pensar, agir e perceber as coisas do povo massacrado pelo “discurso autoritário” (Orlandi-1996, citado por Hofmann) impregnado na nossa tradição.

Após essa revolução cultural, aí sim, pensaríamos numa outra possibilidade de apaziguar este preconceito que fere, diminui e discrimina a maioria da nossa população mundial, estigmatizada como invisível, no sentido de significar que a maioria por pertencer a um patamar inferior como coloca a mídia, as minorias sociais não merecem respeito e oportunidade perante a sociedade, só merecendo esse respeito e oportunidades os favorecidos economicamente, ou seja, quem detém o poder que cuida de encaminhar as coisas na direção que atenda basicamente aos seus interesses, e não ao interesse de todos, apesar da aparência contrária (O que é Cidadania – Maria Covre).

Em suma, só se tornará possível essa revolução cultural a partir do momento em que existir a prática da reivindicação, do respeito aos direitos humanos e da cooperação das forças econômicas e políticas para se efetivar, onde as necessidades humanas básicas serão saciadas permitindo a todos uma vida digna e justa.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

A cor que não atrai

Su Mendonça

Em Salvador, cidade afro-descendente, bonecas negras não tem espaço.

Salvador é a capital brasileira que tem a maior população de afro-descendentes, entretanto, comprar uma boneca negra nas lojas de brinquedos, é uma tarefa que requer muita persistência. Além disso, o consumidor se depara com pouca variedade, e uma das principais reclamações, diz respeito ao estereótipo das bonecas. Para Lidiane Santos, 22, manicure, as bonecas negras vendidas, são feias.
Movimentos negros na região Nordeste tentam de várias maneiras aumentar a quantidade de bonecas negras nas lojas da capital, mas os lojistas continuam resistentes pela pouca procura e falta de interesse pelo produto.
De acordo com os gerentes de algumas lojas de brinquedo de Salvador, esse tipo de comércio não está satisfatório, pois, a maioria das crianças já chega procurando as bonecas de cor branca que fazem o estilo estadunidense, gerando, assim, prejuízo nas lojas que disponibilizam as bonecas negras. Segundo o gerente das lojas Americanas do Center Lapa, José Rocha, “as crianças já chegam às lojas procurando as bonecas brancas que estão no auge”.
Alguns pais entrevistados acham um absurdo a falta de divulgação das bonecas negras na mídia, e dos comerciantes em colocar mais bonecas desse tipo no mercado. Roseli Firmino, 41, enfermeira, disse que sua filha adora e muitas vezes não compra por não existir propagandas de lojas que tenham esse tipo de produto. “Essa deve ser uma forma de ratificar o racismo”, diz Roseli. “Minha filha nunca me pediu pra comprar uma boneca negra para ela, também nunca incentivei, pois, toda vez que chegava ao mercado, eu encontrava mais bonecas negras feias, tipo a nega maluca,” fala Ana Borges, 39, enfermeira.
Segundo a psicóloga Martha Leal, a maneira como as crianças chegam às lojas, escolhendo as bonecas brancas, é devido ao incentivo tanto da mídia, quanto da criação dos pais. “Os pais devem instruir as crianças com uma visão mais humanitária, ensinando-as a valorizar as pessoas pelo o que ela é independente da raça. Porém existe a questão do comércio, que não investe neste tipo de produto por não existir uma grande demanda, pois, a maioria do público interessado não tem condições financeiras para comprar as bonecas, que são muito caras”, afirma Leal.

Rádio Educadora FM