Su Mendonça
A invisibilidade social é um conceito empregado aos indivíduos discriminados pela própria sociedade em que está inserido. Ser invisível, é não ter importância para seu grupo social, é sofrer a indiferença, o preconceito, “é não ser ninguém perante o olhar da maioria” (livro “Homens invisíveis” do psicólogo Fernando Braga da Costa). A invisibilidade é concretizada a partir do momento em que uma parte da sociedade impõe regras as quais a maioria dos indivíduos são obrigados a seguir, não seguindo estas, o indivíduo é esquecido socialmente tornando-se inexistente para o restante do grupo.
São diversos os fatores, que podem contribuir para que a invisibilidade social continue arraigada em nossa sociedade: sociais, culturais, econômicos, políticos e estéticos. A invisibilidade pode levar um indivíduo a processos depressivos, causando a sensação de abandono e aceitação na condição de ninguém, mas também pode levar a mobilização e a organização da minoria discriminada. Essa minoria social é prejudicada a maioria das vezes, pelo sistema capitalista, onde é mantido pela lei do mais valia, ou seja, as minorias sociais são visíveis somente para o mercado consumidor, essa é uma das formas de visibilidade aos indivíduos excluídos economicamente.
A falta de comunicação entre as pessoas também é um fator que causa a invisibilidade e que talvez seja um dos mais preocupantes. A realização de diálogo entre pessoas faz-nos sentirmos mais importantes e de certa forma valorizados. O olhar de uma pessoa sobre outra pode causar impactos meramente inusitados e um olhar de desprezo pode causar revolta e futuramente outras tragédias. Um indivíduo que é reconhecido socialmente tende a progredir e estabelecer padrões aos quais o sistema emana, criando assim sua identidade.
No entanto, existem milhares de crianças e adolescente em Salvador e em todo o mundo que infelizmente são tratadas como se não existissem, desprezadas por uma parte da sociedade cujo interesse só é captar lucro e ressarcir interesses próprios, deixando de lado toda uma geração cheia de sonhos e necessidades a serem saciadas.
Estas crianças e adolescentes por não terem suas necessidades saciadas e terem um padrão de vida desumano, são esquecidas pela sociedade, sendo discriminadas, humilhadas e até mesmo sendo vítimas do preconceito estético e dos maus tratos da polícia e da própria sociedade (Falcão-Meninos do tráfico), ou seja, por serem mal vestidas e por fazerem parte de um grupo economicamente excluído, os detentores do poder violam a Declaração Universal dos Direitos Humanos onde diz que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”. Quando os direitos humanos passam a ser violados, a situação torna os indivíduos propícios a atos barbáries, causando revoltas e a organização de grupos considerados nocivos (pessoas que se juntam para conseguir aparecer perante a sociedade, como: MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem terra), a Central Única de Favelas (CUFA), fóruns nacionais, estaduais e municipais de defesa dos direitos da criança e do adolescente. Esses grupos também podem ser encontrados no crime organizado, o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho) para os detentores do poder (Texto Invisibilidade Social: outra forma de preconceito- Mateus Constantino-SP) .
O que fazer para tentar combater essas mazelas que a invisibilidade e a luta pela sobrevivência impõem para esse grupo desfavorecido?
Para que esse problema fosse solucionado, aos poucos teríamos que começar a conscientizar toda sociedade sobre o problema que assola no nosso país e no mundo. Problema este, que aumenta a violência, a miséria e a pobreza de uma nação. Poderíamos começar essa luta, tentando modificar os discursos gerados pela classe hegemônica inserida nos veículos de comunicação cujo interesse é imobilizar a grande massa, determinando padrões de comportamentos (Loraci Hofman) dos indivíduos.
Para mobilizarmos essa grande massa, seria necessário mudarmos esses discursos construídos para alienar a sociedade sobre as diversas mazelas existentes no estado, no país e no mundo. Na tentativa de construir uma nova realidade, essa mobilização social seria elemento indispensável para uma chamada “revolução cultural” (Prof. Jorge Lisboa), ou seja, modificação do modo de pensar, agir e perceber as coisas do povo massacrado pelo “discurso autoritário” (Orlandi-1996, citado por Hofmann) impregnado na nossa tradição.
Após essa revolução cultural, aí sim, pensaríamos numa outra possibilidade de apaziguar este preconceito que fere, diminui e discrimina a maioria da nossa população mundial, estigmatizada como invisível, no sentido de significar que a maioria por pertencer a um patamar inferior como coloca a mídia, as minorias sociais não merecem respeito e oportunidade perante a sociedade, só merecendo esse respeito e oportunidades os favorecidos economicamente, ou seja, quem detém o poder que cuida de encaminhar as coisas na direção que atenda basicamente aos seus interesses, e não ao interesse de todos, apesar da aparência contrária (O que é Cidadania – Maria Covre).
Em suma, só se tornará possível essa revolução cultural a partir do momento em que existir a prática da reivindicação, do respeito aos direitos humanos e da cooperação das forças econômicas e políticas para se efetivar, onde as necessidades humanas básicas serão saciadas permitindo a todos uma vida digna e justa.